Nada sobre nós, sem nós – Artigo de Luciano Rezende

Prefeito Luciano Rezende

Luciano Rezende é Prefeito de Vitória

O lema da ONU vale mais do que nunca para todo o mundo. Ou seja: nada mais deve ser discutido para a população, sem a participação da população.

A frase do título foi o lema da Organização das Nações Unidas (ONU) nas discussões sobre as pessoas com deficiência, em 2004. A afirmação de que nada discutido valeria se os integrantes daquele segmento não tivessem sido ouvidos cabe perfeitamente na analise do fato histórico que estamos vivenciando no Brasil. O gigante acordou, foi para a rua, está falando muitas coisas e precisa ser compreendido.

Que ninguém se iluda. Este movimento questiona todo o sistema! O alvo principal é meio político, mas, também, o modelo construído no mundo tendo por base unicamente a economia. Como disse assessor de um presidente dos Estados Unidos, para explicar o porquê do seu assessorado se dar bem na política: “É a economia, estúpido”. Para interpretar o que acontece hoje a frase precisa ser mudada para “é a felicidade das pessoas, estúpido”. As pessoas querem viver mais felizes.

No Brasil, milhões passaram a consumir, nos últimos anos, iogurte, eletrodomésticos e outros produtos, mas também entraram nas universidades, aumentaram o seu grau de escolaridade, ampliaram o senso critico e não aceitam mais ficar três horas dentro de um ônibus lotado todos os dias para ir e voltar ao trabalho, assistir cenas de hospitais cheios de pessoas sendo atendidas pelo corredor ou escolas em mau estado de conservação, entre outras deficiências.

O que está por trás desse movimento é a insatisfação geral. No Brasil teve como ponto de partida a crise na mobilidade urbana, que é grave, causando queda na qualidade de vida das pessoas. O movimento se potencializou com a Copa das confederações, que aumentou o sentimento nacionalista, detonado pelo aumento no preço das passagens de ônibus em São Paulo.

Tem relação com todas as grandes manifestações ocorridas no mundo: fóruns de Davos, Ocupe Wall Street, primavera árabe, manifestações recentes na Espanha e Turquia: sempre tem um elemento detonador da insatisfação popular, massificada via internet. É preciso sensibilidade e humildade para mudar, estimular o diálogo, a interação permanente para governar em rede.

Um governo burocrata e frio é também coisa do passado, esse é um caminho sem volta. Corrupção, então, nem pensar!

Não há alternativa a não ser governar de forma coletiva, horizontal, conectado com as pessoas, com uma gestão compartilhada. Nesse cenário, o lema da ONU vale mais do que nunca para todo mundo. Ou seja: nada mais deve ser discutido para a população, sem a participação da população.

Fonte: Jornal A Gazeta – Edição de 06/07/2013